Estética Idealista Alemã
- Rodrigo R de Carvalho
- 5 de mar.
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Na guinada subjetivista realizada por Kant ressaltou-se o elemento construtivo do contemplador diante da obra de arte, bem como as questões referentes ao gosto individual, a beleza passa, de acordo com sua perspectiva, a ser construída no espírito e não mais no objeto. O grande mérito de Kant foi o de chamar a atenção para o fato de que a fruição com a arte não é meramente intelectual, mas mobiliza a imaginação. O desafio que ficou após sua construção teórica foi o de realizar uma síntese entre o subjetivismo kantiano que jogava luz no que acontecia na subjetividade humana diante do objeto artístico e, por outro lado, o objetivismo tradicional que colocava no objeto características que faziam deste belo ou não belo, isto se fazia necessário, pois sem tal síntese teríamos a impossibilidade de uma ciência da estética, uma vez que cada contemplador construía, segundo Kant, a beleza em seu espírito, reinando com isso um relativismo estético.
Schiller seria o primeiro a buscar tal síntese, o esteta alemão defendeu que a reflexão era condição para o sentimento da Beleza, recolocando a questão do racional e objetivo sem deixar de lado o elemento subjetivo. O mundo da arte para Schiller é o mundo da “aparência", não confundindo isto com ilusão ou erro, mas como "aparência” não só legítima como também superior ao mundo real, pois a realidade é obra das coisas e a "aparência" estética é obra humana, mundo construído por nós. A civilização e a cultura são processos nos quais os homens reconfiguram e reconstroem o natural (formas de linguagem, de organização social, de expressão, de comportamento, de alimentação). Para Schiller a Beleza é jogo.
Schelling, na sequencia histórica, retoma esta reconstrução de Schiller inserindo elementos platônicos, ideal, ideia e unidade voltando a metafísica estética. A Beleza para Schelling é a apresentação finita do infinito, a síntese entre real e ideal. Uma separação importante empreendida por Schelling no reino da estética é entre sujeito e objeto, o primeiro como liberdade, o segundo como necessidade. O sujeito livre e consciente empreende imprimir no objeto uma ideia ou ideal, o objeto por seu lado é inconsciente e não livre, no entanto pela ação do sujeito ganha forma e liberdade se tornando, assim, síntese entre liberdade e necessidade, consciência e inconsciência, forma e matéria, realidade e idealidade. Como ser espiritual e livre que o homem é não se contenta com uma natureza inconsciente, cega e bruta, empreende então o projeto de espiritualização do mundo, torna-lo artístico e estético, espiritualizando o real, o sensível, imprimindo liberdade no mundo. Beleza é a indiferença, indistinção entre liberdade e necessidade contemplada no concreto.
Na esteira das tentativas de reação a Kant, Hegel é influenciado tanto por Schiller quanto com Schelling. Sua definição de Beleza é aparência sensível da ideia, algo muito próximo do pensamento schellinguiano. O conceito de ideia em Hegel surge, neste caso, como sinônimo do Infinito ou absoluto de Schelling, no que concerne a relação entre liberdade e necessidade, novamente Hegel aprofunda as posições e intuições de Schelling, isto é, a interioridade do homem é liberdade, idealidade e consciência, o mundo a seu redor é o exato oposto, realidade, inconsciência e necessidade, diante deste conflito o ser humano deseja produzir um mundo mais parecido consigo, mais livre, consciente e ideal, a arte é a atividade que promove tal síntese. No homem também reina tal contradição no conflito entre suas paixões e seu espírito, sua universalidade e sua singularidade, também busca realizar tal síntese e espiritualizar a si mesmo. Para Hegel, Arte, Religião e Filosofia são veículos de espiritualização do mundo, a arte humaniza as coisas imprimindo ideia no sensível, a religião faz o homem buscar e acolher em si a ideia, o absoluto, a filosofia, por fim, faz a síntese entre a arte e a religião, entre o absoluto dentro de nós e o absoluto representado no mundo.
HUISMAN Denis. A Estética. Lisboa: edições 70. 1981.
SUASSUNA. Ariano. Iniciação à estética. 13ªed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2014.
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