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Reações à ética Kantiana

Schiller e o acabamento à moral de Kant


Menos de uma década do lançamento da crítica da razão prática (1788), diversas reações e debates acerca da moral kantiana dominaram o meio acadêmico. Em 1793 Schiller publica um texto intitulado sobre a graça e a dignidade, que teve como objetivo apresentar a relação entre ética e estética, em especial, o que a segunda teria a contribuir com a primeira. A tese central de Schiller, que ficaria mais clara em sua obra mais importante A educação estética do Homem (1794), é que a época conseguiu grande esclarecimento dos princípios racionais do conhecimento e da moral, mas tais princípios não tornaram-se força de ação isso se deveu ao fato de a sensibilidade, sentimentos e inclinações, ainda carecerem de educação estética, com efeito eles e colocavam como obstáculos às realizações da liberdade humana. Para Schiller, a revolução francesa, mais precisamente o terror jacobino foi paradigmático, pois mostrou que a busca da liberdade se desenrolou em terror e em barbárie.

Schiller apresenta que há estágio de desenvolvimento do ser humano, no início ele é um selvagem, pouco diferente de um animal ele tem dificuldade de resistir aos seus sentimentos e inclinações mais brutas, se encontra, na maioria das vezes, preso a elas. A era do esclarecimento anunciou um novo momento de desenvolvimento humano no qual ele não seria mais determinado por seus impulsos, mas sim por sua razão, por princípios racionais universais que organizariam a vida social em direção a justiça e ao bem. No entanto, para Schiller, apesar de a cultura teórica ter revelado quais são os princípios racionais que deveriam guiar a conduta humana, tais princípios não foram introjetados pelos indivíduos, estes permanecem ou sob o controle das inclinações, sendo ainda selvagens, ou abdicaram todos os seus sentimentos tornando-se insensíveis e desnaturados e usando de maneira utilitária sua razão. A estes Schiller chamou de bárbaros, pois eles usam sua razão contra a sensibilidade, contra tudo o que os faz seres naturais. Contra estes dois modelos Schiller defende o ideal de homem cultivado, isto é, aquele que nem abdica de sua sensibilidade nem permite que ela o determine, aquele que usa sua razão como guiassem deixá-la tornar-se utilitarista.

Com este projeto em mente Schiller defende que a moral kantiana merece um acabamento que garanta a possibilidade de educar a sensibilidade, as inclinações e sentimentos a se adequarem a lei moral da razão, isto é, defende que não há necessidade de oposição entre razão e sensibilidade, entre lei e inclinação. O exemplo dos viajantes traz exatamente este debate ao colocar o terceiro e quinto viajante sob análise, defendendo a superioridade do quinto sobre o terceiro. O terceiro, agiu por dever e contra a inclinação, isto é, não é um homem cultivado na medida em que guarda em si uma sensibilidade que não se conformou a lei da razão. O quinto por outro lado não se vê nenhuma oposição, a sensibilidade deseja exatamente o mesmo que a razão.

Os dois viajantes acabam por apresentar exatamente o par Graça - Dignidade, isto é, o último é aquela ação conforme a lei moral, por dever e contra a inclinação, o primeiro, conforme a lei moral, por dever e a favor da inclinação, ambas são ações morais, no entanto, graça é superior a dignidade na medida em que nela há absoluta harmonia entre razão e sensibilidade. Em todas as circunstâncias que forem possíveis devemos agir com Graça, em todas as outras com Dignidade.


Scheler e a crítica à Kant


Como vimos, Kant realiza uma troca de paradigma na ética de tal modo que seu novo modelo deseja ser diferente de todos os modelos até então. Ele promove um modelo que se pretende fundado na razão pura e por isso, com validade universal. Kant buscou resolver problemas que a seu ver permaneceram em todos os modelos éticos, a saber, a diferença entre Bem-estar e Bem e mal-estar e mal. No entanto, muitos foram aqueles que apontaram problemas com a ética Kantiana, alguns tentaram complementá-la, outros se puseram radicalmente contra ela propondo um novo modelo para pôr em seu lugar. Este é o caso de Max Scheler.

Valores tradicionalmente foram entendidos como uma qualidade dos seres, isto é, algo que não subsiste por si mesmo, mas apenas como apêndice de outra coisa. No entanto, Scheler se encontra na esteira daqueles filósofos que defendem uma terceira modalidade de conhecimento ao lado do sensível e do racional estaria os valores tanto éticos como religiosos. Há um paralelo entre a lógica e a ética, se no primeiro temos o verdadeiro se impondo racionalmente, no segundo temos um impositivo emocional de natureza volitiva que ou ama ou odeia. O amor ou ódio podem ser justos ou injustos, assim como os juízos de conhecimento podem ser verdadeiros ou falsos, para ser justo este amor ou ódio eles devem ser objetivamente bons ou maus.

Tendo em vista isto Scheler deseja levar os seus leitores a terem um contato pessoal com a realidade dos valores. Primeiramente 'importante realizar a seguinte distinção, uma coisa são os valores e outras são os suportes de valor dado objeto pode suportar este ou aquele valor (ex de valores sensíveis: vermelho em si, sem nenhum objeto que o suporte; doce; saudável.) (Ex de valores éticos: Sócrates aceitando a condenação injusta coloca em evidencia o valor de obediência as leis da pátria; São Francisco através da pobreza põe em evidência o valor do desprendimento dos bens materiais; Gandhi com sua resistência pacífica mostrou o valor e o poder da não-violência.) Eis que assim vão se revelando o universo dos valores universais da humanidade que determinam o que é bom e o que é mau.

A conclusão de Scheler é que não só há um mundo dos valores como ele é objetivo e real, independente dos seres humanos, não são por eles inventados, mas descobertos pela “emoção pura". A crítica de Scheler à Kant depende desta análise fenomenológica que pretende provar a existência objetiva e independente dos valores. Tais valores de bem e mal não podem ser definidos, apenas intuídos emocionalmente, podemos tomar como bom todo ato intencional que visa realizar um valor superior, por oposição é mau todo ato intencional que visa realizar um valor inferior, isto é o valor superior deve ser sempre preferido e o inferior preterido. Com isso, temos uma hierarquia objetiva de valores, o qual guiará a ação intencional na hora de escolher qual valor preferir ou preterir.

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