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O Hegel e o Espírito 4/4

Hegel critica Schleiermacher por considerar o sentimento o elemento essencial da religião e do contato com Deus. Para Hegel, o sentimento é insuficiente para o conhecimento de Deus, pois é inerentemente subjetivo e particular.Essa particularidade do sentimento impede que se possa afirmar algo com certeza absoluta sobre o Ser de Deus, que não pode ser encontrado nele. Contudo, Hegel concorda que a religião deve ser sentida; uma religião sem sentimento sequer seria religião.


Ele enfatiza que, embora necessário para a experiência religiosa, o sentimento não serve como critério para desvendar a verdade sobre Deus. Essa limitação do puro sentimento é um problema que Hegel busca resolver. A representação surge como um caminho intermediário entre o empírico e o especulativo. Ela tenta formar imagens de Deus, saindo da subjetividade para uma certa objetividade.


No entanto, a representação ainda está presa aos sentidos e não alcança o pensamento puro, que é a única forma de responder "O que é Deus?". Assim, como o sentimento, a representação é considerada insuficiente para esse conhecimento. Na dialética hegeliana, nada é descartado; sentimento e representação são superados e incorporados no movimento do espírito. Ambos são momentos necessários do pensar reflexivo humano, que a consciência percorre em sua relação com Deus.


O pensamento reflexivo, que sucede os momentos anteriores, revela que o finito não pode existir por si mesmo, exigindo seu correlato, o infinito. A questão central para Hegel é como o pensamento finito pode apreender o infinito. Abordagens anteriores frequentemente caíram em dicotomias: ou afirmavam a transcendência de um Deus inacessível, separando-o radicalmente do finito, ou diluíam o finito no infinito, como em certas tradições panteístas.


Hegel rejeita essas vias empíricas do sentimento e da representação, pois não conseguem capturar a relação finito-infinito nem responder à questão sobre Deus. Ele propõe que a forma reflexiva do pensamento é a única capaz de reconciliar essa aparente dicotomia. Através dela, percebe-se que o espírito absoluto se manifesta em toda a realidade, com maior clareza na arte, na religião e, especialmente, na filosofia da religião. A dialética hegeliana propõe a unidade como identidade de identidade e diferença.


Isso significa que um conceito só é compreendido em relação ao seu oposto. A consequência dessa visão é que Deus é tanto finito quanto infinito, o que pode soar como heresia para alguns. Deus se finitiza para entrar na existência e alcançar o autoconhecimento, sendo um movimento dialético vivo. Por outro lado, o ser humano pode se elevar do finito ao infinito através do caminho especulativo.


A essência do ser humano como espírito é ser um espelho de Deus, capaz de se elevar do particular ao universal, do finito ao infinito. O finito não apenas emergiu do infinito, mas conceitualmente retorna e se une a ele. Assim, o Deus infinito transborda para gerar o finito, e o finito, por sua vez, retorna e se une ao infinito. As religiões são vistas como momentos preparatórios para essa união com o divino.


Devoção, culto e fé são etapas dessa elevação. No entanto, a concretização plena dessa união só ocorre através do caminho especulativo da filosofia da religião.Hegel identifica três momentos históricos da consciência religiosa. O primeiro é a universalidade, onde Deus é indiferenciado da realidade infinita, presente em religiões naturais como as da Pérsia e do Egito.

O segundo é a particularidade, onde Deus é concebido como infinito em oposição ao finito, com alienação entre eles, exemplificado no Judaísmo e nas religiões gregas.

Por fim, a individualidade representa a religião absoluta, que supera a alienação e reconcilia os dois momentos anteriores. O Cristianismo é a religião absoluta para Hegel.


Na figura de Jesus Cristo, o finito e o infinito se reconciliam, com Deus se finitizando e o finito se infinitizando. A própria Trindade cristã expressa essa verdade dialética.

O Pai representa o imutável de Deus; o Filho, o Deus-homem, é a manifestação de Deus fora de si. O Espírito Santo é o retorno de Deus nesse processo de reconciliação entre o divino e o mundo.



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