O Jovem Hegel e a Religião 1/4
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- 26 de jul.
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Hoje apresentamos um debate onde mergulhamos nas complexidades da Filosofia da Religião! Hoje, vamos desvendar as ideias de um dos filósofos mais complexos e controversos da história: Hegel. A discussão sobre ele é tão vasta que alguns o veem como precursor do ateísmo materialista de Feuerbach e Marx, enquanto outros afirmam que ele coloca a religião em um status privilegiado, ao lado da Arte e da Filosofia, como etapas cruciais do espírito Absoluto. Para entender essa aparente contradição, precisamos olhar para o jovem Hegel.
A Filosofia Moderna marcou uma grande transformação, saindo do teocentrismo medieval para o antropocentrismo, onde o sujeito e a subjetividade ocupam o lugar que antes era de Deus. No entanto, isso não significa que Deus desapareceu, mas sim que a forma de debatê-lo e à religião foi profundamente transformada. Filósofos como Descartes, Pascal, Kant e Schleiermacher já participaram dessa contenda. Kant, por exemplo, detonou as provas da existência de Deus e reduziu a Filosofia da Religião a uma análise moral. Já Schleiermacher reabilitou a religião, conclamando todas elas como expressões do mesmo Absoluto. É nesse cenário que Hegel se insere.
Qual era o intuito de Hegel? O de renovar e atualizar a religião para a modernidade, fundando-a na razão, mas sem eliminar a fantasia, os sentimentos e a sensibilidade. Isso é quase uma "alfinetada" na religião puramente racional de Kant, embora Hegel também não quisesse uma religião irracional ou imune à razão, mas sim uma religião crítica.
O jovem Hegel foi educado no cristianismo protestante e estudou no seminário protestante de Tubinga, onde conheceu Hölderlin e Schelling. Ele foi fortemente influenciado por pensadores como Montesquieu, Herder, Rousseau, Schiller e Lessing. Seus primeiros escritos, como "Religião Popular e Cristianismo" (1793), "Vida de Jesus" (1795) e "A Positividade da Religião Cristã" (1799), já abordavam a religião e sua conexão cultural e política com a sociedade.
Nesses escritos iniciais, o jovem Hegel, influenciado por Kant, tratava a religião em seu conteúdo racional moral, com valor formativo e educativo. Jesus era visto como um ideal de virtude, um "novo Sócrates" pregador da razão, e não como uma figura transcendente ou divina. Hegel, nessa fase, acreditava que os discípulos de Jesus teriam deturpado seus ensinamentos ao fundar um sistema eclesiástico e dogmático.
Essa perspectiva leva Hegel a desenvolver o tema da alienação religiosa, que mais tarde seria amplamente explorado por Feuerbach e Marx. Para Hegel, a religião aliena na medida em que retira do indivíduo a possibilidade de construção moral por si mesmo, tornando-o dependente de revelações, sinais e milagres. Assim, o indivíduo deixa de determinar a si mesmo, e o que é verdadeiro, bom e justo passa a ser imposto pela fé sem juízo crítico, criando um tipo de "escravidão" onde Deus é o senhor dominador e o humano, seu escravo.
Esse jovem Hegel "teólogo" é, na verdade, um teólogo secular, moral, à la Kant. Ele critica Kant, colocando-o no mesmo "balaio", por ter "nadificado" o humano ao colocar Deus fora e distante dele, criando uma relação de dependência. Para Hegel, o Imperativo Categórico de Kant seria um produto do pessimismo antropológico luterano, gerando uma separação radical entre razão e sensibilidade que impediria a verdadeira liberdade, produzindo um "escravo" ou "mártir do dever" em vez de um ser livre.
Hegel, por sua vez, compreende que a liberdade vem acompanhada de espontaneidade. Isso significa que nem o particular (indivíduo) pode se submeter completamente ao universal (Deus), nem a sensibilidade à razão. O ser verdadeiramente livre, para ele, seria o humano que se torna um universal concreto.
Essa análise do jovem Hegel nos ajuda a compreender como é possível que sua obra seja interpretada de maneiras tão distintas: tanto como um precursor do ateísmo quanto como alguém que eleva a religião a um status privilegiado dentro do desdobramento do Espírito Absoluto.



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