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Socialismo X Comunismo X Anarquismo

O socialismo surge como um conjunto de ideias e práticas que tem como objetivo libertar o ser humano de todas as formas de exploração e opressão, seja de origem social ou política. Sob o impacto ainda recente da Revolução Francesa (1789) em toda Europa (1840) havia modelos absolutistas extremamente opressores como Prússia e Áustria, tais modelos eram questionados e existia uma disputa para que eles fossem substituídos por monarquias constitucionais ou repúblicas. O movimento liberal criticava o despotismo dos Estados na esperança de maior participação política, industriais e intelectuais se uniam para pressionar por reformas democratizantes.

Quando a repressão aumenta e jornais liberais são censurados e fechados a burguesia de industriais recua e não se pronuncia, o que deixa claro que seu liberalismo era de caráter econômico e não político. Tal decepção com a burguesia industrial ilustrada leva Marx a perder a fé na possibilidade desta classe se tornar o protagonista de uma transformação social real, pois ela acabava por perseguir somente seus interesses e tinha muito a perder com um modelo mais igualitário. Marx percebeu que uma mudança no arranjo do Estado, isto é, uma revolução política não resolveria o problema da desigualdade entre as classes, somente uma revolução social poderia realizar tal feito, sendo assim o liberalismo era estreito demais para pensar essas categorias, somente o socialismo daria conta disso.


Marx, práxis e luta de classe x socialismo utópico


O socialismo utópico teve como ideal a regulação do mercado de trabalho e a realização de direitos sociais e do trabalho, assim como assistência médica, educação e moradia popular. Na Inglaterra os sindicatos de operários fundaram um partido chamado cartismo que visava conquistar melhores salários e redução da jornada de trabalho. O cartismo teve duas correntes internas, a primeira os conspiracionistas inspirada nos jacobinos franceses, defendia que devia existir uma elite intelectual que liderasse um golpe de Estado que instituísse uma ditadura com fins igualitários; a segunda os pacifistas defendiam que a uma comuna deveria ser fundada pelo proletariado, artesão e camponeses, em outro lugar, não desejava com isso tomar o Estado, muitos destes seguiram para os EUA para tentar realizar sua comuna.

Já o socialismo de Marx, ficou conhecido como comunismo e diferia por defender uma revolução, não uma reforma ou um pacifismo, que fosse realizada não por uma elite intelectual, mas pelo proletariado. Com isso Marx desejava conquistar o Estado para assim substituir o modelo social-econômico.

A ferramenta desenvolvida por Marx no decorrer da sua vida foi a análise e crítica da economia política, isto é, jogar luz sobre o funcionamento do capitalismo, sobre a produção e troca de mercadorias e sobre a relação entre as classes sociais e a propriedade privada. Como indicado a cima, como a burguesia era uma classe constituída sobre a noção de propriedade privada seria improvável, se não impossível, uma revolução por igualdade partisse dela. Nesse contexto Marx encontra um novo ator político e social que deveria ser o protagonista deste processo: o proletariado.

Vencendo a alienação econômica, isto é, o fato de que o trabalho assalariado esconde a exploração realizado contra o proletariado, conscientizando-os das jornadas de trabalhos sem limites, dos baixos salários, do uso de mão de obra infantil, e das péssimas condições de trabalho, Marx acreditava que poderia iniciar um movimento de operários de reivindicação econômica e política, o que de fato já começava a ocorrer na França, Inglaterra e Alemanha.

O conceito de luta de classe ganha, na teoria marxiana, especial importância, pois é a chave, junto ao conceito de práxis, de leitura da realidade. A luta de classe identifica de um lado os proletariados, despossuídos dos meios de produção, detém somente a força de trabalho como sua propriedade, de outro a burguesia, detentores dos meios de produção e exploradores da força de trabalho. O conceito de práxis diz respeito a ação revolucionária, ao projeto de superação da exploração e opressão, a autolibertação através do fim da propriedade privada usando para isso, se necessário, a violência.

O erro dos socialistas utópicos é não perceberem que o antagonismo é constitutivo da sociedade capitalista, a burguesia sempre irá oprimir o proletariado, pois disso depende sua existência enquanto burguesia, não podendo por isso ocupar o papel de protagonista da revolução. Com isso, Marx e Engels tiveram como objetivo formar um partido comunista que disputasse a hegemonia da classe operária com o socialismo utópico, levando-a a construir a sua autolibertação através da práxis revolucionária. No Manifesto comunista (1848), vemos o programa político proposto, bem como suas pretensões internacionalistas.

O futuro da Europa se desenhava ou com uma revolução social liderada pelo Cartismo na Inglaterra e proclamação de repúblicas sociais na França e Alemanha com a declaração de independência da Polônia Itália e Hungria ou a derrota destes movimentos progressistas pelos regimes absolutistas da Prússia, Áustria e Rússia. (Revolução ou Reação contrarrevolucionária e conservadora)


1º Internacional: Socialismo científico x Anarquismo


Em 1848 a contrarrevolução internacional vence este primeiro round derrotando a revolução em todos os lugares: reprimindo e perseguindo o cartismo Inglês; operários franceses são chacinados ao pressionar o governo por reformas; o absolutismo austríaco impede o movimento de independência italiano e recorre aos russos pra reprimir a revolução húngara; ficando isolada a revolução Alemã é sufocada pelo absolutismo prussiano.

Em 1864 a Associação Internacional dos Trabalhadores, 1ºinternacional, promove uma reaproximação das lutas operárias europeias, com isso Marx rapidamente se move para integrar a Internacional e influenciar seus rumos. No entanto, Marx enfrentou como adversário Proudhon, o pensador anarquista que desejava que os operários formassem cooperativas de produção e troca justa de mercadorias, instaurando assim relações de igualdade. O objetivo dos anarquistas é gradualmente, de maneira pacífica, substituir o atual modelo por uma federação descentralizada de comunidades de trabalhadores. Já Marx queria a luta política que disputasse o Estado centralizado, para com ele acabar com a propriedade privada e com a luta de classes.

Na segunda metade da década de 60 o adversário de Marx torna-se Bakunin que enxergava na figura do próprio Estado a opressão, com isso desejava um modelo político que o abolisse, mas para Marx a opressão política é derivada da econômica, Bakunin com isso centrava fogo no lugar errado.

Como podemos observar a discórdia é uma questão de princípio, seria a opressão econômica que gera uma opressão política ou a opressão política que gera a econômica? No primeiro caso temos o marxismo e sua tese de que precisamos acabar com a propriedade privada e com a luta de classes, no segundo temos o anarquismo e precisamos acabar com a figura do Estado, pois dele que se cria toda forma de opressão, se existe Estado não há liberdade. Como sempre, a doença da fragmentação acaba por sepultar a organização da esquerda na 1º Internacional.


2º Internacional : Reformismo x Revolução


Com a morte de Marx em 1883 Engels torna-se o divulgador e editor das obras póstumas de Marx, divulgando e encorajando novos pensadores do socialismo científico por toda Europa. Plekhanov foi um dos intelectuais que surgem na Rússia e se utilizam da obra de Marx, em especial do etapismo, concepção de que há etapas de evolução histórica, sendo elas, feudalismo, capitalismo, socialismo e, por fim, comunismo.

Com a morte de Engels, Kautsky torna-se o maior representante do marxismo ortodoxo, o marxismo da 2º Internacional. Este discordava do etapismo de Plekhanov por achar muito mecanicista, Kautsky por influência do darwinismo pensava o marxismo de maneira evolucionista, rejeitando o conceito de práxis, acreditava que o socialismo viria naturalmente com o colapso do capitalismo. Para ele não há necessidade de revolução violenta, pois a social-democracia deve conquistar pelas vias legais uma melhoria das condições de vida da classe operária e aguardar o colapso do capitalismo.

No fim do século XIX, Bernstein inicia o que ficou conhecido como revisionismo, um abandono do programa revolucionário para pôr em seu lugar um socialismo evolucionista que defendia uma mudança gradual e pacífica do capitalismo, através de reformas sociais que visassem uma sociedade socialista, justa e igualitária. Tal programa seria tocada um por democracia parlamentar, seu modelo se difere de Kautsky, pois este acredita que a mudança virá com o colapso, colapso este que Bernstein não vê no horizonte.

A economista polonesa Rosa Luxemburgo foi uma das críticas do revisionismo de Bernstein, pois acreditava que ele se focava em demasia na luta de classes, buscando uma conciliação e, assim, abandonava o objetivo central de Marx, a revolução social. Rosa como Marx e Kautsky acreditava e ansiava pelo colapso do capitalismo. Deste modo, fica marcado o racha na 2º internacional entre os revolucionários - Plekhanov, “Kautsky” e Luxengurgo – e os reformistas – Bernstein.

Na Rússia no início do século XX a social-democracia inflamava as greves operárias contra o tzarismo. No partido duas facções disputavam o poder, os bolcheviques (maioria) e os mencheviques (minoria). Lenin (bolchevique) se destaca neste momento defendendo que devia ser formado um grupo de intelectuais burgueses para liderar o povo para uma revolução para além do reformismo. Esta forma de socialismo defende um partido-vanguarda que organiza a tomada do Estado. Os mencheviques permanecem como reformistas preocupados com a luta sindical e ampliação da participação política, visavam uma aliança com setores progressistas da burguesia.

Disputando com Lenin o comando dos bolcheviques estava Trotsky, que desejava que a classe operária se aliasse com os camponeses, pois assim mais que uma reforma, mais que uma revolução burguesa progressista, teria uma revolução socialista que queimaria a etapa do capitalismo levando a Rússia feudal direto para o socialismo. Com a primeira guerra mundial a 2º Internacional é e derrotada numa nova era nacionalista.

Lenin percebe que o Imperialismo de guerra, acabava por impedir que o capitalismo colapsasse e inclusive formando uma aristocracia operária que rachava a classe impedindo qualquer forma de revolução internacional. Sendo assim, Lenin adota o programa de Trotsky, neste momento estoura e revolução de 1917 que depõe o tzar, liberais e mencheviques assim o governo provisório que pretendia realizar uma revolução burguesa que implementasse o capitalismo. Lenin age rapidamente defendendo uma república soviética que teria um conselho de operários, camponeses e soldados eleitos, o que ele via como muito mais avançado que a república parlamentar liberal pretendida pelo governo provisório.

3º Internacional


Lenin propõe não só a igualdade salarial entre operário e servidor público, visando acabar com a hierarquia entre Estado e sociedade. Mas rompe com a tática nacionalista e imperialista da social-democracia reformista, adotando em seu lugar o comunismo como programa revolucionário internacional. No final de 1917 em outubro os bolcheviques liderados por Lenin tomam o Estado sob a promessa da uma reforma agrária que distribuiria terras para os camponeses.

Na Alemanha os social-democratas, reformistas e revolucionários seguidores de Rosa Luxemburgo, proclamavam a república de Weimar em 1918, no ano seguinte o grupo de Rosa se separa chamando-se Partido Comunista Alemão tenta tomar o poder sem sucesso, sendo brutalmente reprimidos e mortos, Rosa entre eles.

Novamente o racha se estabelece entre os social-democratas reformistas e os agora assim chamados comunistas. Na Alemanha o capítulo seguinte dessa história é a ascensão do Partido Nacional-Socialista de Hitler que derruba a república de Weimar e instaura um regime totalitário que persegue judeus e comunistas.

Em 1924, com a morte de Lenin se dá uma disputa entre Stalin e Trotsky. O que estava em jogo era o internacionalismo, pois para Trotsky o sucesso dependia de a revolução socialista explodir em outros países. Stalin, por sua vez, não via isto ocorrendo no atual contexto, por isso adota a doutrina do socialismo em um só país. Em 1927 Stalin realiza um expurgo das lideranças bolcheviques, assassinando, prendendo e exilando consolidando definitivamente seu poder. A revolução que nasce com o intuito de tornar-se uma república de administração horizontal transforma-se em um dos regimes mais totalitário e violentos da história.

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