Aristóteles: Teoria da Beleza
- Rodrigo R de Carvalho
- 5 de mar.
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Beleza como harmonia e proporção
Aristóteles romperá com o idealismo platônico, não somente no que diz respeito a teoria da beleza, mas no campo do conhecimento, da metafísica. Como para Aristóteles não existe este mundo suprassensível independente, não seria possível para ele entender a beleza tal como Platão, como resultado da maior ou menor participação na ideia de Beleza absoluta e suprema, mas de harmonia ou ordenação, existente entre as partes desse objeto entre si e em relação ao todo.
Para uma coisa ser Bela, Aristóteles defende que nela deve conter certa grandeza e imponência, então para um objeto poder ser assim determinado como belo ele deveria conter grandeza e imponência bem ordenado e harmônico, com boas proporções e medidas. Na “Retórica" Aristóteles defende que uma mulher bonita é aquela bem-proporcionada, se for pequena é graciosa e não bela, pois a beleza exige grandeza, se for muito grande perdemos a noção de todo e também não pode ser bela.
Nessa perspectiva Aristóteles é o primeiro autor realista da estética e, apesar de sua obra sobre o assunto ter sido perdida, temos algumas menções a Beleza e ao belo em sua obra sobre o teatro "Poética". Lá podemos ver que as características essenciais da Beleza são ordem, harmonia e grandeza, simetria e unidade. Tanto Platão quanto Aristóteles promovem uma idealização na arte, contudo por que chamamos um de idealista outro de realista, a resposta é que em Platão o ideal se encontra na ideia , forma ou arquétipo suprassensível que existe de fato num mundo mais nobre que o sensível e para Aristóteles este ideal existe no espírito humano é imanente a nós, com efeito, a diferença é que em um o ideal existe de fato para além do ser humano e independente dele, no outro existe, pois dentro do ser humano reside, eis que Platão busca o ideal no transcendente (extra ou ultra humano), para além deste mundo, e Aristóteles no imanente ao espírito humano, portanto, no indivíduo na razão humana, ambos concordam que este belo é universal, necessário e absoluto.
Quando reflete sobre o teatro, por exemplo, Aristóteles diz que a tragédia constrói homens melhores que os naturais, e na comédia homens piores. O teatro na antiguidade possui uma unção social bastante clara, a purificação de emoções, ele tinha como tarefa promover a piedade, o terror, a compaixão, etc. Deste modo, é capacidade criativa humana rebaixar ou exaltar os seres humanos criando uma imagem destorcida do ser humano natural e comum. A arte não é, para Aristóteles, uma imitação da natureza, mas sim uma transposição, reconstrução corretiva da natureza. A arte não é fruto da reminiscência, como em Platão, mas sim da produção criadora do espírito humano, e tudo que aparece são novas formas e não rememorações.
“A beleza consiste na unidade na variedade.” a celebre fórmula dos Aristotélicos, busca sintetizar o pensamento de Aristóteles. A cosmologia Aristotélica nos ajuda a entender sua compreensão estética, no início tínhamos o caos e a desordem, que aos poucos foi se ordenando e se racionalizando. No entanto ainda resta caos e desordem para serem ordenados e racionalizados, está é a luta eterna do ser humano, buscar pôr em ordem a si mesmo e ao mundo, seja pela ciência, como sistema de compreensão da natureza, seja a religião como compreensão do sagrado, seja a arte ou filosofia.
O conflito entre harmonia e desordem
Como já mencionado, Aristóteles via na comédia uma arte da desordem, que desenhava homens inferiores e viciosos, deste modo, ainda que de maneira ainda incipiente ele já havia percebido que não existe somente a categoria do Belo, só em nosso texto já apareceram o gracioso e o feio, sendo este último associado no teatro aos vícios e a desarmonia.
Com efeito Aristóteles defende que a Beleza é objetiva, como Platão, mas é mais radical que seu mestre, pois para Platão a beleza era objetiva, mas se referia a um maior ou menor grau de participação na ideia ou forma, em Aristóteles ela é empiricamente objetiva, essa característica faz dele o primeiro realista objetivista da estética.
Mesmo sendo um realista objetivista, isto não implica que Aristóteles não notou e abordou o caráter subjetivo e transcendental da Beleza, ele também buscou esclarecer sob ângulo psicológico o que acontece com o espírito humano quando este está a contemplar. Sua conclusão foi que o prazer estético é resultado da simples contemplação do objeto, sem que haja nenhum interesse distinto, ela é nesse sentido gratuita, ou como será chamada mais tarde, desinteressada.
Pontos fundamentais do pensamento Aristotélico
Em síntese: 1) A beleza é uma propriedade objetiva que aparece quando há harmonia entre as partes de um todo que possua grandeza e medida; 2) As características da Beleza são harmonia, grandeza e proporção; 3) A fórmula da Beleza é "unidade na variedade”; 4) Aristóteles é o primeiro a reconhecer a fragmentação do campo estético, admitindo o feio e o gracioso como elementos ao lado do Belo; 5) Seu realismo não se confundo com um materialismo, pois ele busca a essência das coisas.
Com as duas teorias estéticas apresentadas até aqui vimos que entre os objetivistas, isto é, aqueles que julgam que a beleza se encontra no objeto, em suas características, se dividem em dois: idealistas, como no caso de Platão, que enraízam a Beleza na Ideia que existe para além do indivíduo; e realistas, como no caso de Aristóteles, que enraízam a Beleza no ideal imanente ao espírito humano e que se encarna no objeto artístico. Ambos acreditam que a ferramenta que realiza o juízo estético é a razão, em Platão como capacidade de ver e se lembrar da ideia de Beleza pura e Absoluta e em Aristóteles, na razão como ferramenta capaz de verificar e de imprimir simetria, harmonia e ordem nos objetos artísticos.
HUISMAN Denis. A Estética. Lisboa: edições 70. 1981.
SUASSUNA. Ariano. Iniciação à estética. 13ªed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2014