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Platão: Teoria da Beleza

Em nosso primeiro texto sobre estética vimos o arcabouço teórico da estética, vimos que as teorias se dividem quanto a origem da beleza, estando no sujeito (subjetiva) ou no objeto artístico avaliado (objetiva). Se dividem também quanto a que ferramenta humana realiza tal julgamento estético, se seria a razão ou a sensibilidade, e por último sobre quem deve dar os fundamentos da estética, se seria a filosofia, a história, a sociologia ou a psicologia.

Nesta texto veremos o primeiro autor que inaugura a reflexão sobre a arte, Platão. Antes de entrarmos em sua teoria estética propriamente dita precisamos relembrar um pouco da teoria platônica, pois disso depende a compreensão de seu entendimento de Beleza.


Mundo das ideias


Platão é o que se chama na filosofia de Dualista, isto é, compreende o mundo como constituído por duas substâncias, a sensível e a inteligível. A substância sensível é toda aquela que nossos sentidos experimentam, a matéria que tocamos, o som que ouvimos, os cheiros que sentimos, o gosto que experimentamos e por fim tudo o que nossos olhos tocam. Todo o mundo concreto é reino do que se chama mundo sensível em Platão.

O mundo inteligível, por sua vez, seria um outro mundo desmaterializado, onde se encontram as ideias, tais ideias existem de fato, não apenas como nossos pensamentos, tudo o que existe no mundo sensível é como que copiado do mundo inteligível, são as ideias que servem de modelo para a construção do mundo sensível, deste modo elas são superiores ao sensível

Sendo assim, Platão, um idealista, defende que a “beleza de um ser material qualquer depende da maior ou menor comunicação que tal ser possua com a Beleza Absoluta, que subsiste, pura, imutável e eterna, no mundo suprassensível das Ideias," (SUASSUNA, 2014, p. 43). Isto quer dizer que existe uma ideia de Beleza neste mundo inteligível, as coisas do mundo sensível somente são julgadas belas na medida em que participam dessa ideia absoluta de Beleza inteligível. Lembrem-se de nosso exemplo da cadeira, descobrimos que a essência de cadeira a ter assento, encosto e pés, isso é o que caracteriza a ideia inteligível de cadeira e, por isso, somente é denominado cadeira o que tiver essas características. Assim também ocorre com a Beleza, somente é belo o que participa da ideia inteligível de beleza.


Reminiscência


Nessa medida, um objeto é mais belo quanto mais próximo da forma da Beleza pura, quanto mais distante da forma, quanto mais desforme, menos belo, menor sua participação na ideia. Por nossa alma pertencer ao mundo das ideias e se encontrar encarcerada no mundo sensível ela sente falta das ideias (formas) já contempladas antes de encarnar, por este motivo somos inclinados ao Verdadeiro ao Bom e ao Belo, pois estas são ideias puras, tudo que no mundo sensível se aproxima destas formas ou ideias nos atrai.


“Assim quem se dedica à Beleza, não a recria na Arte, quem se dedica à Verdade, não a descobre, pelo conhecimento: tanto num caso como noutro, o que acontece é que a alma recorda-se das formas e verdades contempladas no mundo das essências, antes que a alma se unisse ao corpo.” (SUASSUNA, 2014, p. 44-5)


“O Banquete”


No “O Banquete” a tese platônica aparece na teoria da busca pelo amor, o qual começa pela beleza grosseira e física de um belo corpo, passando pelo amadurecimento e percepção que a beleza é ideal e, por isso, habita vários corpos e, ao fim, alcança a beleza de todos os corpos, uma vez que ela é identificada como uma a mesma Beleza que é contemplada de forma desinteressada. Para Platão, somos atraídos pela ideia da Verdade quando investigamos o mundo, somos atraídos pela ideia do Bem quando agimos e somos atraídos pela ideia da Beleza quando contemplamos.


O caminho místico


Como idealista que é Platão não poderia satisfazer-se com a Beleza apena física, dos corpos, a busca da Beleza deve transcendendo reino sensível totalmente, por isso, na sequência se abandona a beleza do corpo e se investe na beleza da alma, identificando-a como superior à do corpo. Sendo elemento do mundo sensível o corpo entra em decadência perdendo sua Beleza, tendo isto em vista a beleza da alma, a beleza moral seria superior uma vez que não entra em decadência. Com efeito, passa-se a admirar os costumes e as leis morais.

Pelo caminho do amor, inicialmente físico e depois espiritual, o homem se eleva da beleza sensível até a Absoluta, ideal, eterna. “A Beleza é o brilho ou esplendor da Verdade” dizia Platão. Há uma identificação, ou unidade entre Beleza, Verdade e Bondade, estas são as três faces da divindade platônica, no reino humano se materializam na figura do Herói, do sábio e do Santo respectivamente.


“A procura do Belo é um desejo de eternidade, uma espécie de Ânsia de purificação; traz ao homem amor e alegria. Sem ela, o homem ficaria infalivelmente condenado a arrastar-se no mundo da realidade sensível." (HUISMAN, 1981 p. 22)


A Reminiscência e o "Mênon”


A característica marcante da Beleza é gerar deleite, ela em si mesma, desperta o amor. Contemplar a Beleza é, para Platão uma recordação, por isso anamnese. A alma se lembraria dessa realidade mais nobres desfrutada antes de encarnar

Em sua teoria das ideias ou das formas todas as coisas são inspiradas nessas formas e ideias puras, quanto mais se aproximam da ideia absoluta mais belos elas são. As coisas corpóreas são meras ‘imitações' desses modelos ideais, sombras pálidas em comparação com a pureza e luminosidade das essências." (SUASSUNA, 2014, p.49)


HUISMAN Denis. A Estética. Lisboa: edições 70. 1981.

SUASSUNA. Ariano. Iniciação à estética. 13ªed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2014.

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