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Empirismo: Locke e Hume

Como vimos na última aula: Racionalismo o século XVII é marcado pelo estudo da epistemologia, isto é, da investigação sobre qual a origem do conhecimento, até onde podemos conhecer, qual sua fonte ou origem. O racionalismo foi a corrente filosófica que depositou suas fichas na razão, na lógica e no método dedutivo. O empirismo, ao contrário, defendeu a tese de que todo conhecimento vem da experiência sensorial, isto é, do nosso contato com o mundo através dos cinco sentidos.

Na perspectiva empirista nossas ideias e crenças são produtos das informações que colhemos do mundo. Nessa medida o inatismo racionalista é negado uma vez que para o empirista nascemos como uma folha em branco, uma tábula rasa que não possui nenhuma ideia. Todo conhecimento é adquirido a posteriori, isto é, com base na experiência, e não, como afirmava o racionalismo, a priori, sem auxílio de qualquer experiência.

O método do empirismo será o raciocínio indutivo, no qual eu acumulo experiências afim de estabelecer uma regra geral que explique todos os fatos observados. A medicina, por exemplo, não deseja descobrir regras para um indivíduo, mas sim para um grande grupo de indivíduos que sofrem uma mesma enfermidade. Assim como a física quer descobrir as leis que expliquem o movimento de todo o universo e não apenas de um astro. O racionalismo se utilizava do método dedutivo que não se importava com a observação de casos, mas sim com a dedução lógica.

John Locke (1632-1704) também realizou uma investigação acerca do entendimento humano visando descobrir qual a origem, se é possível ter certeza e qual a extensão do conhecimento. Para Locke é o conhecimento o traço distintivo do ser humano, os animais não produzem conhecimento, nós seres humanos sim.

As ideias em Locke não são inatas, pois nascemos como uma folha em branco, sendo assim sua origem são ou a sensações do mundo externo ou a reflexão sobre essas sensações. Com isso, temos uma valorização dos sentidos na medida que a percepção é o primeiro passo para o conhecimento. Na concepção de Locke a razão desempenha papel importante com a reflexão, mas precisa ser alimentada pelas sensações.

Para Locke os objetos possuem qualidades primarias e secundárias, são qualidades primárias a solidez e extensão, secundárias tudo que se refere ao que o ser humano sente subjetivamente sobre o objeto. O fogo possui como qualidade primária solidez e extensão, como qualidade secundária o calor e a dor. O limão também possui como qualidade primária a solidez e a extensão, já como secundária seu azedume.

A ideias podem ser simples ou compostas: simples quando não podem ser desmembradas ou divididas, brancura, maciez, dureza, frieza, prazer e dor; composta como é fruto do somatório de ideias simples, por exemplo a neve branca e fria.

David Hume (1711-1776), outro importante empirista, investigou os princípios que ordenam os acontecimentos mentais, sua investigação era voltada aos processos mentais de associação de ideias, de tipos de ideias e do que seria uma impressão sensível. Para Hume a percepção é o ponto de partida do conhecimento, podendo ser uma impressão, isto é uma sensação, paixão ou emoção vivida, ou uma ideia, um pensamento acerca de uma impressão. Exemplo: quando estamos apaixonados sentimos essa impressão, vivemos vividamente esse nosso sentimento, quando anos depois comentamos sobre aquela paixão recordamos como ideia aquilo que antes vivemos.

O empirismo de Hume é mais radical que o de Locke, pois ele defende um ceticismo frente a possibilidade de dizer de onde vêm as impressões, a afirmação de Locke que ela viria dos objetos é posta em suspensão por Hume, pois ele defende que só temos acesso a impressão, o que a causou, o que está antes dela jamais poderíamos saber, nem mesmo isso é relevante para conhecermos o processo pelo qual o ser humano produz conhecimento.

O principal tema comentado de Hume é sua crítica ao princípio de causalidade, tal princípio é aquele no qual as mais diversas ciências estão assentadas, ele determina que um evento é sempre efeito daquele anterior que o causou. Tal relação de causa e efeito é vista pelas ciências como necessária, isto é, uma lei ou regularidade da natureza. Assim como é necessário que o triângulo tenha três lados, seria, de acordo com o princípio de causalidade, necessário que o sol que nasceu todos os dias nascesse também amanhã. Hume não critica que os eventos apareçam juntos, mas sim a necessidades de que seja assim. O triângulo ter três lados é uma necessidade que já é dita pela própria definição do que é um triângulo, no entanto, é perfeitamente possível e pensável que o sol não nasça amanhã. O princípio de causalidade não garante essa necessidade necessária a qual a ciência o atribuiu, para Hume apenas crença de que ocorrera novamente, pois já vimos os eventos associados antes.


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