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Iniciação à Estética

Vimos que a filosofia nasce de uma distinção com a produção mítica do ser humano, ainda que por vezes ela se relacione com os mitos, e até mesmo os utilize. Vimos também que a filosofia se descola da religião, produzindo uma investigação e linguagem autônomas, ainda que tenha todo um ramo que tematiza a religião.

Agora veremos qual a relação à filosofia estabelece com uma outra atividade humana, a Arte. A reflexão sobre a Arte e a Beleza é tão antiga quanto a própria filosofia, no entanto ela somente se torna uma disciplina específica chamada estética muito recentemente, no século XVIII.

Nos primórdios da filosofia, no assim chamado período clássico da filosofia grega, tínhamos uma teoria da beleza, na qual o belo era a principal categoria estética estudada. Durante todo o período da antiguidade, era medieval e parte da era moderna o entendimento sobre o belo se dividiu em belo da natureza e belo da arte, sendo o primeiro superior ao segundo, tal concepção inaugurada por Platão só é criticada no século XIX pelo idealismo alemão. É também Platão que inaugura a concepção que a beleza de um objeto qualquer existe graças a uma característica objetiva deste objeto, a peça, a pintura, a escultura, o livro a música, somente são belos porque algo foi colocado neles que os tornaram assim.

Apesar de Aristóteles notar que o estudo da Arte não se dedicava somente a beleza, mas também a feiura, ao cômico e ao dramático, somente na modernidade tardia que a então estética vai procurar abarcar diversas categorias como o sublime, o risível, o gracioso o trágico. A estética deixava de ser apenas uma teoria da Beleza para se tornar um estudo sobre os diversos fenômenos estéticos e suas categorias, tudo o que era provocado em nossa relação com o mundo das artes.

Para iniciarmos nossos estudos em estética precisamos compreender que há três decisões a serem tomadas de início. Quanto a possibilidade da existência da Estética, quanto a objetividade ou subjetividade da Beleza e quanto ao método empreendido para se estudar a Estética.


Irracionalismo x Estética (É possível um discurso racional sobre as Artes?)


A primeira é quanto à possibilidade de uma disciplina tal como a estética, seria possível a racionalização, organização e ordenação dos fenômenos estéticos? O que ganha a Arte em ser tematizada pela razão? Os irracionalistas olham a Estética com desconfiança, pois acreditam que ela quer legislar sobre a Arte, tolhendo assim a liberdade da criação artística. Eles defendem que “a Arte e a Beleza são tão sagradas, vivas e fecundas quanto a vida, e submetê-las às especulações da estética é matá-las no que elas têm de mais nobres e atraentes.” No entanto, os que defendem a Estética a colocam como defensora da Arte, ela não pretende dizer como o artista deve criar, mas compreender, esclarecer e organizar a produção artística humana e para alguns, captar a essência da Arte, da Bleza e de suas categorias.


Estética Objetiva x Estética Subjetiva (Onde está a Beleza no objeto ou no sujeito?)


Nossa época é marcada pelo relativismo estético, isto é, a compreensão de que se tratando de arte o belo ou o feio depende do gosto particular de cada um, sendo assim o juízo sobre qualquer material artístico seria relativo aquela pessoa, individual e por isso subjetivo. No entanto, tal concepção é bastante recente, ela surge somente no século XVIII, antes desta data acreditava-se que aquilo que é Belo é para todos os seres humanos, assim como o que é feio, o que é cômico, o que é trágico, a este modelo chamamos de objetivo, pois existe algo no objeto artístico que faz dele o que ele é, e nós como seres dotados de razão e sentidos podemos captar este algo e assim sentir o prazer da beleza ou o sublimidade da tragédia.


Estética Filosófica ou Estética científica (Como devemos investigar a Beleza?)


A terceira grande opção que se deve tomar é quanto ao método adotado, seria a estética uma ciência filosófica ou experimental? o método deve ser lógico-filosófico ou científico-experimental? O modelo experimental se fixa em apenas ordenar, explicar e sistematizar fatos estéticos, entendendo como fato estético a experiência pessoal de cada um, (psicologia experimental- subjetivismo) com isso há uma separação radical entre estética e filosofia.

A questão que surge deste processo é quais seriam os princípios de ordenação e sistematização dos fatos estéticos? A psicologia tentou oferecer os seus, a sociologia os dela, a história os dela, assim a disciplina, ao se ver desconectada da filosofia, se fragmentou em psicanalismo, psicologismo, sociologismo e historicismo. Há também aqueles que resistiram e mantiveram a conexão entre filosofia e estética defendendo o uso da lógica, estes acreditam que é possível captar essências a partir do objeto estético. Com exceção do irracionalismo, tanto a estética filosófica quanto a científica concordam num ponto, é possível conhecer algo do campo estético. Divergem no método para buscar este conhecimento, mas nenhum dos dois acreditam que a estética oferece algum perigo a liberdade criadora da Arte.


SUASSUNA. Ariano. Iniciação à estética. 13ªed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2014.

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