Plotino: Estética Neoplatônica
- Rodrigo R de Carvalho
- 5 de mar.
- 4 min de leitura
O platonismo exerceu sobre a antiguidade, idade média e Renascença, para parar por aí, enorme influência. No que diz respeito a estética ele teve impacto sobre as teorias neoplatônicas de Plotino, Bossuet e Boilau, na idade médiia Agostinho e no renascimento Da Vinci e Ficino.
Plotino e Aristóteles
Podemos dizer que o fundamento da visão de Beleza de Plotino é platônico, apesar de Plotino, em sua reflexão, já anunciar elementos que só seriam desenvolvidos na estética moderna de Kant, Bergson e Maritain. Sua estética é uma reação a Aristóteles, a compreensão de que beleza é definida em termos realistas e objetivistas de produto da harmonia das partes em um todo.
Para Plotino, a explicação de Aristóteles não procede, pois ela tem como consequência que as partes, por si só não são belas, somente quando reunidas de forma ordenada, harmônica, simétrica é que cumpririam as condições da beleza. Mais estranho que isto, teríamos que admitir que um objeto belo é composto por partes que vistas isoladamente não são belas, assim temos um Belo nascido do arranjo de partes não belas. Com efeito, nada simples seria belo, como ficaria então a luz do sol, ou uma nota musical isolada, sendo elas simples teriam de ser excluída da beleza.
Como poderia ser belo o ouro? E o resplendor da noite e os astros, por que serão belos de ver? Pelo mesmo motivo, quanto aos sons, a simplicidade afugentaria a beleza; e, no entanto, frequentemente, cada um dos sons de um todo musical belo é, por si mesmo, belo também. (PLOTINO apud SUASSUNA, 2014, p. 61)
Suassuna chega a argumentar que tal crítica de Plotino não pode ser aceitar contra Aristóteles, pois é impossível para o ser humano se relacionar com o simples ou o puro, tudo que apreendemos já é automaticamente comparado com todas as outras impressões que tivemos, seja de notas musicais seja de cores.
Influência platônica em Plotino
Retornando a teoria transcendente da participação ou comunicação Plotino defende que uma coisa Bela o é por participação na ideia divina, um logos vindo dos deuses. Na esteira de Platão afirma que os objetos do mundo sensível nada mais seriam que imagens materiais transformadas pelas essências, isto é, as ideias divinas encarnadas, que aparecem dando forma a matéria desforme.
Como em Platão a Beleza tem um que místico, uma força de atração que nos arrasta novamente ao lar de nossa alma. Os sentimentos pela Beleza suscitados são: exultação, arroubo, anelo, amor e deleitoso arrebatamento. Plotino defende também a reminiscência platônica a qual tais ideias divinas são relembradas no contato com o mundo sensível que ganhou forma inspirado por elas.
Plotino e Kant
Ao estudarmos na próxima aula o pensamento de Kant veremos como este caracteriza o juízo de gosto como a terceira forma de julgar, sendo a primeira de conhecimento e a segunda a moral. No gosto o que está em jogo é o sentimento de prazer e desprazer na interação livre entre imaginação e entendimento. Plotino parece sugerir algo muito próximo disso ao afirmar que o ser humano possui uma faculdade específica para julgar a beleza.
Em outros momentos parece notar a necessidade de fragmentação da estética de estudar mais que somente a Beleza, em partes de seu texto chega a nominar o feio e o mal como elementos a seres estudados, algo que segue a intuição aristotélica, indo além de Platão e sendo com ele precursor da estética moderna.
Plotino: a centelha e o brilho do objeto Belo
No que diz respeito ao prazer estético, buscando superar a definição aristotélica de que o prazer é fruto do reconhecimento da imitação do artista, Plotino acaba por defender que o prazer estético é fruto do reconhecimento de que naquela obra há algo da alma de outro ser humano. O artista consegue imprimir em sua obra uma centelha sua, uma fagulha ou um brilho. Ao contemplarmos a obra nossa alta se alegra ao encontrar tal fagulha, ou brilho, é para ela um reencontro. Nas palavras de Plotino: “Na beleza material, e não meramente na destreza da imitação do artista, como sugeriam Aristóteles e Plutarco, a alma reconhece uma afinidade consigo mesma." (PLOTINO apud SUASSUNA, 2014, p. 65)
Com efeito, para Plotino a Beleza não é uma harmonia apenas, mas uma luz, uma centelha ou um brilho que dança sobre a harmonia, assim Plotino sintetiza a tese platônica e a aristotélica, mantendo a ideia de brilho da do bem, de participação e de comunicação da ideia divina de Platão e adicionando a harmonia como condição para esta aparição da luz. O artista acaba imprimindo esta luz através de sua técnica de harmonizar as partes da obra, essa habilidade ou linguagem acaba por produzir uma obra harmônica aos sentidos e reluzente a alma, acaba por intensificar aquela existência. A beleza, deste modo, surge quando a luz da forma triunfa sobre a obscuridade da matéria.
HUISMAN Denis. A Estética. Lisboa: edições 70. 1981.
SUASSUNA. Ariano. Iniciação à estética. 13ªed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2014.
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