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Sócrates e os Sofistas




No texto "Os pré Socráticos" citamos brevemente os filósofos da Physis, aqueles filósofos da natureza, que inauguraram a filosofia ao se descolar da explicação mítica dos fenômenos da natureza. O tema central deles era: “o que é a natureza?" “qual é o princípio que deu origem a tudo que existe?”, deste modo, eles deram origem ao momento da filosofia intitulado “descoberta da natureza”.


No chamado período clássico da filosofia grega se inaugurou uma investigação sobre um novo tema: “O que é o ser humano?", tal investigação remete aos sofistas e a Sócrates. Os sofistas eram professores particulares de retórica, eram versados na técnica do discurso para convencer e ensinavam estas habilidades argumentativas. Sócrates, por sua vez, era um homem errante que questionava a todos em praça pública buscando aprimorar sua alma e desenvolver senso crítico. Seu desejo, com isso, é sintetiza na frase “conhece-te a ti mesmo." Tanto um quanto outro iniciaram, deste modo, a "descoberta do homem".


Os sofistas acreditavam que não existia apenas uma verdade, sendo assim, a verdade era diferente para cada um, era relativa, com isso restava aos homens não a busca pela verdade, mas a habilidade ou técnica de convencer as outras pessoas sobre a sua verdade, deste modo, temos um conceito de verdade subjetivo e, com isso, um relativismo. Justiça e injustiça, bem e mal, verdade e mentira são, para eles, constituições contingentes, isto é, criações humanas convencionadas e não tem uma realidade em si mesma. Protágoras, um importante sofista da época, dizia "O homem é a medida de todas as coisas", com isso queria sintetizar justamente esse relativismo, o qual cada ser humano teria sua própria verdade.


Sendo Atenas uma cidade em que existia uma democracia, na qual todos os assuntos eram discutidos em praça pública e a política e o debate eram os responsáveis por todas as decisões, o estudo da retórica ensinada pelos sofistas era extremamente valorizado, tendo em vista que capacitava aqueles que a ele se dedicavam a se utilizar das palavras e participar da vida política decidindo os rumos da cidade. O poder de persuasão da palavra era o instrumento de convencimento e de manipulação aprendido na retórica.


Para Sócrates, ao contrário dos sofistas, a destinação do ser humano era buscar a verdade universal para assim aprimorar sua alma, uma vez que esta é nossa essência. Riqueza, fama e honrarias de nada serviam neste aprimoramento. O aprimoramento da alma ou busca da verdade acontecia por meio de seu método dialético-dialógico chamado maiêutica. Neste ocorria um processo de argumentação e contra argumentação que tinha como objetivo depurar o pensamento, isto é, encontrar contradições, ilusões e erros e, assim, se aproximar da verdade. Sócrates acreditava que o ponto de partida da busca da verdade era descobrir o tamanho de nossa ignorância e, com isso, reconhecê-la para somente depois buscar a verdade. Sua famosa frase “Só sei que nada sei” sintetiza esse raciocínio e ressalta a importância de saber e reconhecer o fato de que pouco ou nada sabemos sobre a maioria dos assuntos e mais perigoso que reconhecer isso seria permanecer julgando-se saber o que não sabe.


O método socrático se valia de alguns momentos entre eles: a ironia que tinha como objetivo incentivar seus interlocutores a se lançarem no debate e exporem o que pensavam sobre os mais diversos assuntos. Posteriormente, Sócrates mostrava contradições, preconceitos e convicções da tradição que não se sustentavam e nem se explicavam, com isso, iniciava outro momento, o da refutação, no qual o próprio interlocutor reconhecia seu erro e percebia sua ignorância sobre o tema. Tendo reconhecido isto se aplicava, junto a Sócrates, na busca da verdade. O objetivo final da dialética-dialógica de Sócrates era trazer a luz ideias verdadeiras, depurando aquelas ideias equivocadas e obscuras. Esse momento final era chamado de parto de ideias ou de maiêutica.


Mas o que tudo isso tem a ver com o conceito de ser humano?! A resposta é: Tudo! Pois para Sócrates o ser humano é dotado de uma alma que anseia por conhecimento e só através dele pode descobrir o que é a virtude e então praticá-la, promovendo assim seu aperfeiçoamento.


A diferença entre conhecimento e opinião separa estas duas visões da realidade, o absolutismo de Sócrates e o relativismo dos sofistas. No entender de Sócrates a retórica sofisticas seria um método para produzir ilusões, uma arte da aparência que não tinha como objetivo buscar a verdade. Por este motivo, Sócrates combateu os sofistas, pois acreditava que eles permaneciam apenas no reino da opinião e da crença, sem alcançarem a destinação humana da virtude através do conhecimento.


Tantos os sofistas quanto Sócrates deram uma importante contribuição a disciplina da antropologia filosófica. Os sofistas na medida em que colocaram a questão da educação Paideia, que substituiu a habilidade guerreira, do período das guerras gregas, pela habilidade retórica e política, do período da democracia. Não só o ser humano é o objeto da filosofia, mas o desenvolvimento de suas habilidades e capacidades, uma separação entre sua natureza dada e sua cultura adquirida, com isso, os sofistas iniciam o processo de caracterização do homem como ser de razão, lógos ou discurso organizado. Sócrates, por sua vez, inova o conceito de ser humano por ser o primeiro a compreender e trazer a ideia de alma como uma força ou princípio interior. A alam é o lugar onde ocorre a decisão, onde se forma a personalidade moral. Com isso, Sócrates traz ao conceito de ser humano novas características que perduram até hoje na cultura ocidental, tal como: a ideia do autoconhecimento, a relação entre conhecimento e virtude e do finalismo moral como aperfeiçoamento humano.


Uma questão a ser colocada é, como seria possível a sociedade num relativismo? Se o certo e errado, justo e injusto, bem e mal são diferentes para cada ser humano como podemos conviver? Por outro lado, será que a crença de Sócrates de que conhecimento era virtude está correta? O conhecimento é condição necessária e suficiente para sermos virtuosos?



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